Os quadrinhos do ocidente, na década de 20, tiveram a tira
como a forma mais popular de publicação, e que era feita nos moldes das tiras
publicadas atualmente nos jornais em páginas a cores produzidas aos domingos.
Sua distribuição era feita pelas agências (Syndicates).
A tira é uma sequência de imagens, produzidas em quadrinhos
e que tem como uma das principais características contar histórias curtas, de
humor instantâneo. Mas o termo “tiras” já foi usado para definir qualquer
espécie de tira, não havendo limite máximo de quadros, somente para no mínimo,
que era de dois. No início de sua produção,
nos Estados Unidos, as tiras dominicais eram coloridas e ocupavam uma página
inteira de jornal.
Além de jornais, a tira tem espaço garantido em revistas e,
mais recentemente, conquistou a internet.
Apesar de a expressão “tira” ser frequentemente associada à
comédia, outros gêneros têm sido explorados nas tiras, como aventura, mistério,
espionagem, policial, drama, histórias de heróis e super-heróis, dentre outros.
Uma referência em criação de tiras no Vale do Aço, interior de
Minas Gerais, é o João Marcos, que trabalha ainda com charges e ilustrações há
mais de 20 anos. Seus principais personagens são o Mendelévio e a Telúria, dois
irmãos que disputam tudo. Apesar de viver com grandes conflitos a dupla se ama
bastante.
João Marcos Parreira Mendonça nasceu em Ipatinga-MG e tem 34
anos, pai de Ana, sua inspiração, é mestre em Artes Visuais pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor do curso Design Gráfico da
Universidade Vale do Rio Doce (Univale), chargista, ilustrador e roteirista dos
estúdios Mauricio de Sousa (Turma da Mônica).
Atuou em cursos de formação de professores e oficinas em
projetos de extensão da UFMG, Salão do Livro de Belo Horizonte, Festival
Internacional de Quadrinhos (Belo Horizonte), Encontro das Literaturas, entre
outros.
Sua pesquisa de mestrado ganhou o troféu HQ Mix, e resultou
no livro Traça Traço Quadro a Quadro, da editora C/Arte (2008), sobre produção
de quadrinhos nas aulas de Arte. É autor dos livros O Mundo Mendelévio e o
Planeta Telúria (Abacatte Editorial, 2009) – Quadrinhos; Jarbas Não Quer Voar
(Editora Aldrava/Clesi, 2009) – Literatura Infantil e Um Presente Especial
(Editora Univale), 2008 – Quadrinhos. Participou dos livros Quadrinhos na
Educação: da rejeição à prática (Editora Contexto) – Educação-formação de
professores e MSP 50: Mauricio de Sousa por 50 artistas (Editora Panini), ambos
lançados em setembro de 2009. Seus trabalhos também podem ser apreciados pelo
site http://www.mendelevio.com.br/.
Fale sobre o início de sua
carreira, quais foram as suas primeiras publicações.
Comecei como a grande maioria, desenhando na infância,
fazendo minhas próprias revistas em quadrinhos em casa, apenas para minha
família e amigos mais próximos. Meus pais sempre foram meus maiores
incentivadores. Minha mãe com suas pinturas lindas que fazia, incentivou-me a
desenhar, e meu pai, que comprava muitas revistas em quadrinhos, acabou me
influenciado na escolha dessa linguagem artística.
Profissionalmente, tive primeiros trabalhos publicados no
jornal Diário do Aço, em 1989, com as charges e ilustrações editoriais. Depois
de um tempo, em 1995, saíram meus primeiros trabalhos em quadrinhos. Eram tiras
diárias com o personagem Mendelévio, que mais tarde passaram a ser publicadas semanalmente
numa página do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Meus primeiros livros
foram em quadrinhos, e eram edições independentes. Eu fiz uma economia e
consegui editar dois livros, coletâneas das histórias do Mendelévio. Desde o
ano passado as histórias são publicadas por uma editora de Belo Horizonte, a
Abacatte Editorial.
Sobre o mundo das tiras, onde surge diariamente
uma nova história a criatividade não pode falhar. Onde fica escondida sua fonte
de inspiração?
A grande fonte de inspiração vem do cotidiano, na observação
das pessoas e das situações que vivo no dia a dia. Como escrevo para crianças,
no caso dos quadrinhos, fico muito atento quando estou perto delas, observando
o que elas fazem e falam, às vezes, uma frase pode virar uma história. Eu me
oriento ainda pela informação. Pesquiso e leio muitos autores e trabalhos, não
só nos quadrinhos, mas obras literárias, cinema, TV. No momento da criação,
todas as formas de contar uma história são fontes de inspiração, informação e
aprendizado na hora da criação.
Uma referência e fonte inspiradora
para você e imagino que para muitas pessoas, Maurício de Sousa, começou com a
publicação de tiras diárias e ilustrações em jornais, e, hoje, possui um “mega império”editorial.
Fazendo uma projeção do futuro, você tem planos mais ambiciosos para seus
trabalhos?
O Mauricio é uma grande fonte de inspiração, não só pela
longevidade do trabalho, mas principalmente pela qualidade do trabalho que
desenvolve há 50 anos. É uma referência para todos os quadrinistas brasileiros.
Quanto às minhas produções, tenho muitos sonhos. Muitas coisas estão
acontecendo, graças a Deus, mas sinto que o trabalho ainda está apenas
começando. Tenho muito a trilhar ainda, se Deus quiser. Espero poder continuar
a produzir e que esses sonhos possam se realizar aos poucos.
O desafio que enfrentam os artistas
que estão longe dos centros culturais das grandes metrópoles, no sentido de
alcançar um espaço de projeção para os seus trabalhos, vai ser rompido com a
popularização da internet?
Hoje em dia, com a internet, você não precisa,
necessariamente, estar nos grandes centros para que seu trabalho seja
conhecido. Você pode produzir de qualquer lugar do mundo. Mas acredito que seja
importante participar dos eventos relacionados à área, que geralmente acontecem
nos grandes centros. Festivais de quadrinhos, bienais e salões do livro, entre
outros. Acredito ser importante ir, participar, levar o trabalho, divulgar,
conhecer as pessoas e fazer os contatos, ser conhecido do público e ser visto
pelos profissionais da área. Depois disso, não importa muito o lugar onde você
vai dar sequencia ao seu trabalho. Mas ainda hoje, os trabalhos repercutem mais
nos grandes centros, sem dúvida. Quando possível, ao se lançar um novo
trabalho, é muito importante tentar que aconteçam nesses espaços.
Em relação ao Vale do Aço, por exemplo, acredito que a
conquista desse lugar ao sol cabe a nós, que trabalhamos com arte. Não é um atarefa
fácil, mas é possível. Não adianta ficar só esperando por esse espaço, mas
trabalhar muito para que as pessoas conheçam, acreditem e goste do que
produzimos. Não tem segredo. É trabalhoso, exige esforço, dedicação, mas
acredito que vale à pena.
Seu trabalho é bem diversificado, inclusive com trabalhos
dedicados ao público infantil. Qual a mensagem que você busca passar aos seus
leitores?
Hoje, boa parte do meu trabalho tem sido dedicado a esse
público, por quem tenho um carinho especial. Sobre a mensagem, depende muito da
proposta do trabalho. Nas histórias do Mendelévio, procuro mostrar que podemos
conviver, respeitar e gostar de pessoas que são e pensam diferente de nós, como
acontece com os dois irmãos das histórias. Nos roteiros para as histórias da
turma da Mônica, a preocupação é com uma série de valores importantes na
formação da criança: família, respeito ao meio ambiente entre outros. Mas isso
tudo precisa ficar implícito na história, não pode ser muito didático, porque
fica chato para a criança ler. Mas, quando escrevo, a ideia principal é fazer
uma história que possa divertir, respeitar a inteligência da criança e, sobretudo,
cativá-la de alguma forma, para que ela tenha interesse por todas as formas de
leitura. Se puder fazer a criança refletir sobre alguns aspectos apontados nas
histórias, melhor ainda.
Em sua essência, desde o seu surgimento, no século XX, as
tiras são cômicas. Nesta última década, em especial, vêm surgindo tiras mais
experimentais, que não tem necessariamente esse caráter, ampliando ainda mais
as possibilidades de se desenvolver ótimas ideias. O nome desse novo gênero é
Tira Livre, termo cunhado pelo jornalista, professor e pesquisador Paulo Ramos
(do Blog dos Quadrinhos, do UOL), que vem dedicando especial atenção a essa
nova linguagem das tiras. Afinados com tal proposta estão Laerte, do Jornal
Folha de São Paulo; o trabalho de Rafael Sica; a série Quase Nada, dos gêmeos
Fábio Moon e Gabriel Bá, publicada aos sábados na Folha de São Paulo; dos
argentinos Liniers, que alternam o trabalho com tiras de humor, na série
Macanudo, e Kioskeman, da série Eden. Esses dois últimos artistas já tem
publicações em livros no Brasil, pela Zarabatana Books.
Por: Jeferson Adriano
Matéria originalmente publicada na revista Substantivo, editada com verba da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da cidade de Ipatinga
Nenhum comentário:
Postar um comentário